O vento não se rende. É o primeiro dia de Outono e parece
que o “Cape Doctor” foi chamado a soprar os resquícios de Primavera para fora
de Cape Town de vez. Seja como for já não tenho mais dias para subir à Table
Mountain. Portanto, continuo com o plano seguindo até ao super interessante
Jardim Botânico de Kirstenbosch na encosta sul e inicio a subida. Facilmente
poderia ficar um dia inteiro a deambular pelo jardim mas o vento aumenta e as
nuvens escurecem. Não há tempo a perder. Em género de missão, faço-me ao
caminho.
Não se trata de um Kilimanjaro mas também não é propriamente um programa
turístico. Tão exigente quanto cenográfico, este caminho começa ameno e
complacente mas vai-se tornando frio e agreste. São mais de 10kms com elevação
de 1050m onde as mãos também ajudam na subida. Começo que nem Tarzan em
floresta tropical no meio de lianas e acabo no topo como William Wallace numa
espécie de tundra das Highlands. Impressionante este contraste que infelizmente
não me deixa ver mais além por causa do denso nevoeiro e imenso vento que às
vezes me desequilibra e me leva a ajoelhar como que em sinal de reverência. Há
alturas onde vejo apenas o suficiente para não sair do trilho. Sinto o sol a
espreitar e olho à minha volta. Apresso-me a tirar uma foto ao Cabo da Boa
Esperança, pois sei que ele não ficará ali para mim durante muito mais tempo.
Já passaram 2 horas de caminhada e ainda não me cruzei com ninguém… estarei
no caminho certo? ou sou o único insensato a fazer isto com este vento?
Só ficarei a saber se continuar. “Para a frente é que é o caminho!”