Cape Town ficou para trás. Deixo a Mother City mas não me
despeço ainda do Mar. Será ele aliás o meu único companheiro de viagem nos
próximos 6 dias antes de voltar novamente para o mato.
Sigo Sul. Como quase sempre. Invariavelmente é esta a direção que gosto de
tomar. Escolho sempre a rota mais próxima do mar para nunca o perder de vista.
O Cabo da Boa Esperança é paragem obrigatória. Um promontório imponente que
rasga o mar sem medo, refúgio de Mostrengos e Adamastores. Percebe-se porquê.
A História ensinou-nos a cantar a valentia dos marinheiros portuguese mas não
creio que bravura, devoção ou honra fossem os verdadeiros motivos que os trouxe
aqui… Basta viajar um pouco para questionarmos a própria História… mas isso
é assunto para outras insónias.
Continuo para sul, pois o Cabo da Boa Esperança ainda não é o fim do mundo! Os
autocarros de turistas e as lojas de souvenires comprovam-no. É sem dúvida um
lugar místico de vários nomes e apelidos ao longo da História, consoante o
simbolismo que se lhe quiseram conotar, tal como outros cabos, ventos ou
constelações.
Chego ao Cabo das Agulhas.
Não há mais sul! Há apenas um mar e 2 oceanos separados por uma linha
imaginária. Este é talvez o maior fim do mundo dos fins de mundo. Lugar
esquecido por todos. Pelos narradores que não lhe dedicam quadras. Pelos
governadores que não lhe estendem estradas. Até pelo próprio sol!
Não sei porquê mas gosto destes lugares ainda não vulgarizados. São especiais e
sinto-me especial com eles.
Retomo o caminho junto ao mar pela famosa Garden Route. Em muitos ou quase
todos os aspectos parecida com a Costa Vicentina. Se a Arrifana tivesse
pinguins, era assim…
Porém, aqui as coisas já não me parecem ao contrário mas sim em tamanho XXL.
É tudo estranhamente familiar. É uma paisagem que nos lembra aquele lugar.
É um cheiro que nos lembra aquele sabor.
É um momento que nos lembra aquele sentimento.
É um olhar que nos lembra aquela pessoa… e assim se vão matando estas
pequenas saudades neste lugar que em tudo me faz lembrar o meu.